terça-feira, 30 de setembro de 2008
Entrevista com MI Krikor Mekhitarian por MF Wagner Peixoto e Rafael Rafic
Posted on 12:32 by Mourão, Elcio Conte Lofredo
Wagner Peixoto: Estou feliz de poder entrevistar um dos caras mais fortes e carismáticos do Brasil. De início, você pode dizer inicialmente seu nome completo, data e local de nascimento?
Krikor Mekhitarian: Krikor Sevag Mekhitarian, nasci dia 15 de Novembro de 1986, em São Paulo/SP.
Rafael Rafic: Como você conheceu o xadrez?
KM: Meu pai me ensinou depois de um fato engraçado. Ele me conta que me viu montando um quebra-cabeça pequeno com as peças viradas para baixo e ele conheceu o jogo décadas atrás através de meu tio, que até hoje é um amante do xadrez, apesar de não ser profissional.
RR: E como você começou a entrar no mundo do xadrez, a ter aulas e jogar torneios da federação?
KM: Nessa época comecei a ter aula com o Carlos Solis (Carlinhos), mas ficou como um passa-tempo durante uns bons anos. Até que joguei meu primeiro torneio escolar aos 10 anos, e meu primeiro paulista com 11.
WP: Mas em que momento exatamente você sentiu que poderia chegar a mestre internacional?
KM: Até os 16 eu tinha bastante aula, jogava os torneios de categoria, mas nunca tinha dado aquele gás sozinho. Até os 17, na verdade. Nessa época percebi que se eu quisesse algo, teria que me esforçar o dobro, e, especialmente, sozinho. Meus professores até então; Pelikian, James e Caldeira; ajudaram-me muito, mas eu acho que a passagem para o próximo nível só foi possível com muita dedicação próprio. Claro que usando a base que eu obtive com eles.
RR: Aí veio o título de MI, você ganhou fama nacional e se tornou um dos mais fortes MIs brasileiros, se não o mais forte. O próximo passo, que muitos esperam é o título de GM. Você se sente pressionado para isso?
KM: Bom, desde o ano passado eu comecei a imaginar que conseguiria tentar de fato as normas, e cada vez mais acho que estou me aproximando.
Sobre a pressão, não vou dizer que jogo completamente tranqüilo quando estou com chances reais E ainda acho que preciso lidar melhor com esse fato.
RR: Você chega a fazer algum acompanhamento psicológico para ajudar?
KM: Não, nada. Em partidas dessa importância é natural querer caprichar' mais, sentar mais na mesa, etc. Acho que isso foge do conceito de jogar todas as partidas bem e o que é necessário para conseguir norma é jogar do começo ao fim firme em todas as partidas.
WP: Vamos falar do projeto Europa um pouco.
KM: Claro.
RR: Como surgiu essa idéia?
KM: Quando dizem que esse tipo de projeto deve ser planejado com muita antecedência e passa perto de acontecer muitas vezes antes de dar certo, não é mentira (risos). Eu já queria fazer essa rota há muito tempo. Quase deu certo em 2005, mas era para apenas dois torneios e nada bem planejado. Desde o começo de 2008, mandamos e-mails aos organizadores, e decidimos que iríamos jogar na Europa. O atraente é óbvio: muito torneio, boas condições e boas premiações, sem contar a viagem em si.
WP: Você percebe muita diferença dos mestres europeus para os brasileiros?
KM: Acho que o rating brasileiro está abaixo da realidade européia, sim. Aqui (na Europa) com mais rotatividade de torneios e muitos MIs, GMs, acaba tendo mais rating 'no ar'. Quem joga só no Brasil deve tentar se aventurar na Europa.
WP: Vocês ganharam muito rating no global (soma de todos os torneios) e eu escutava falar em inflação na Europa. Então isso é verdadeiro?
KM: Acho que sim, mas, claro, que é bem relativo. Depende muito do jogador, mas de fato existem jogadores de 2300, de 2400, de 2500 que jogam abaixo de seu rating, assim como também temos isso em qualquer país, mas acredito que aqui (na Europa) é em maior escala.
RR: Agora que a excursão já está quase no fim, você poderia fazer um rápido balanço dela?
KM: Bom, vejamos... Para o Brasil, foi muito proveitoso. Os números não mentem, estamos ganhando 244 pontos depois de 5 torneios pensados. Mais importante do que isso, Diego e Diamant já têm uma norma de GM cada, além de nós 3 termos mais duas chances boas por vir na Suíça e Holanda.
Gustavo e Henrique ganharam muita experiência, além de terem estudado bastante xadrez nesse tempo, preparando para as partidas, e tudo mais.
Fier está amadurecendo seu xadrez e dá pintas de que logo estará passando da barreira dos 2600, uma questão de tempo.
Sobre a minha participação, estou bastante satisfeito. Como de costume, em cada torneio tenho ganhado um pouco de rating e sinto que estou aprendendo com tudo isso.
RR: Você poderia nos contar alguma das muitas histórias cômicas ocorridas nesse período?
KM: História publicável? (risos)
WP: Claro
KM: No primeiro torneio, em Vlissingen, na Holanda, estávamos em um apartamento e desde o primeiro dia penduramos a bandeira do Brasil na sacada. Certa noite a gente foi andar pela cidade, num dia bastante morto. Claro que não encontramos nada, e de quebra nos perdemos. Tentando achar alguma avenida que chegasse ao nosso apartamento, passamos por uns bairros que pareciam bem mal-assombrados, até que uma hora, um daqueles símbolos luminosos com a cara de uma mulher piscou no meio da madrugada assustadora (risos).
Depois de mais uns minutos andando, avistamos a bandeira de longe, porque os apartamentos eram todos iguais por várias e várias quadras, e chegamos em casa.
WP: O que você espera da equipe olímpica brasileira esse ano com vários desfalques dos GMs e do grupo que este ai na Europa?
KM: Acho uma pena as datas dos Jogos Abertos de São Paulo terem coincidido com as Olimpíadas, pois esse ano o Brasil tinha tudo para ter a melhor equipe dos últimos tempos. Porém nem sempre todos ficam felizes e o lado bom é a oportunidade que os jogadores ganharão esse ano para representar nosso país na Alemanha. A exemplo do Fier, que explodiu em 2004, mais resultados positivos podem vir em 2008.
WP: Torço para um dia você vestir o nosso uniforme de Mendes, mestre.
É verdade que você joga no ICC digitando os lances?
KM: (risos) Antigamente não existia o tal do 'premove', jogar o lance antes de seu adversário então eu digitava os lances para ganhar tempo. Mas em partidas de 1 minuto só, puro passa-tempo.
RR: Perguntas Rápidas: respostas de 1 palavra só, por favor.
Para outubro (Mundial), Kramnik ou Anand?
KM: Kramnik
RR: Kasparov ou Fischer?
KM: Kasparov
RR: Senna ou Piquet?
KM: Senna
RR: Xadrez ou futebol?
KM: Xadrez
RR: Para terminar, um recado para as crianças que estão começando no xadrez.
KM: A primeira coisa é divertir-se. O xadrez exige muita dedicação, esforço... Mas em primeiro lugar você precisa gostar do que faz, precisa sentar no tabuleiro e encarar cada partida com gosto, como sendo um desafio.
WP: Krikor, muito obrigado pela gentileza e boa sorte nos próximos torneios.
RR: Muito obrigado, mestre.
KM: Não há de que. Desculpe-me se eu me excedi em algumas respostas, falo demais às vezes (risos). Abraços a todos.
Krikor Mekhitarian: Krikor Sevag Mekhitarian, nasci dia 15 de Novembro de 1986, em São Paulo/SP.
Rafael Rafic: Como você conheceu o xadrez?
KM: Meu pai me ensinou depois de um fato engraçado. Ele me conta que me viu montando um quebra-cabeça pequeno com as peças viradas para baixo e ele conheceu o jogo décadas atrás através de meu tio, que até hoje é um amante do xadrez, apesar de não ser profissional.
RR: E como você começou a entrar no mundo do xadrez, a ter aulas e jogar torneios da federação?
KM: Nessa época comecei a ter aula com o Carlos Solis (Carlinhos), mas ficou como um passa-tempo durante uns bons anos. Até que joguei meu primeiro torneio escolar aos 10 anos, e meu primeiro paulista com 11.
WP: Mas em que momento exatamente você sentiu que poderia chegar a mestre internacional?
KM: Até os 16 eu tinha bastante aula, jogava os torneios de categoria, mas nunca tinha dado aquele gás sozinho. Até os 17, na verdade. Nessa época percebi que se eu quisesse algo, teria que me esforçar o dobro, e, especialmente, sozinho. Meus professores até então; Pelikian, James e Caldeira; ajudaram-me muito, mas eu acho que a passagem para o próximo nível só foi possível com muita dedicação próprio. Claro que usando a base que eu obtive com eles.
RR: Aí veio o título de MI, você ganhou fama nacional e se tornou um dos mais fortes MIs brasileiros, se não o mais forte. O próximo passo, que muitos esperam é o título de GM. Você se sente pressionado para isso?
KM: Bom, desde o ano passado eu comecei a imaginar que conseguiria tentar de fato as normas, e cada vez mais acho que estou me aproximando.
Sobre a pressão, não vou dizer que jogo completamente tranqüilo quando estou com chances reais E ainda acho que preciso lidar melhor com esse fato.
RR: Você chega a fazer algum acompanhamento psicológico para ajudar?
KM: Não, nada. Em partidas dessa importância é natural querer caprichar' mais, sentar mais na mesa, etc. Acho que isso foge do conceito de jogar todas as partidas bem e o que é necessário para conseguir norma é jogar do começo ao fim firme em todas as partidas.
WP: Vamos falar do projeto Europa um pouco.
KM: Claro.
RR: Como surgiu essa idéia?
KM: Quando dizem que esse tipo de projeto deve ser planejado com muita antecedência e passa perto de acontecer muitas vezes antes de dar certo, não é mentira (risos). Eu já queria fazer essa rota há muito tempo. Quase deu certo em 2005, mas era para apenas dois torneios e nada bem planejado. Desde o começo de 2008, mandamos e-mails aos organizadores, e decidimos que iríamos jogar na Europa. O atraente é óbvio: muito torneio, boas condições e boas premiações, sem contar a viagem em si.
WP: Você percebe muita diferença dos mestres europeus para os brasileiros?
KM: Acho que o rating brasileiro está abaixo da realidade européia, sim. Aqui (na Europa) com mais rotatividade de torneios e muitos MIs, GMs, acaba tendo mais rating 'no ar'. Quem joga só no Brasil deve tentar se aventurar na Europa.
WP: Vocês ganharam muito rating no global (soma de todos os torneios) e eu escutava falar em inflação na Europa. Então isso é verdadeiro?
KM: Acho que sim, mas, claro, que é bem relativo. Depende muito do jogador, mas de fato existem jogadores de 2300, de 2400, de 2500 que jogam abaixo de seu rating, assim como também temos isso em qualquer país, mas acredito que aqui (na Europa) é em maior escala.
RR: Agora que a excursão já está quase no fim, você poderia fazer um rápido balanço dela?
KM: Bom, vejamos... Para o Brasil, foi muito proveitoso. Os números não mentem, estamos ganhando 244 pontos depois de 5 torneios pensados. Mais importante do que isso, Diego e Diamant já têm uma norma de GM cada, além de nós 3 termos mais duas chances boas por vir na Suíça e Holanda.
Gustavo e Henrique ganharam muita experiência, além de terem estudado bastante xadrez nesse tempo, preparando para as partidas, e tudo mais.
Fier está amadurecendo seu xadrez e dá pintas de que logo estará passando da barreira dos 2600, uma questão de tempo.
Sobre a minha participação, estou bastante satisfeito. Como de costume, em cada torneio tenho ganhado um pouco de rating e sinto que estou aprendendo com tudo isso.
RR: Você poderia nos contar alguma das muitas histórias cômicas ocorridas nesse período?
KM: História publicável? (risos)
WP: Claro
KM: No primeiro torneio, em Vlissingen, na Holanda, estávamos em um apartamento e desde o primeiro dia penduramos a bandeira do Brasil na sacada. Certa noite a gente foi andar pela cidade, num dia bastante morto. Claro que não encontramos nada, e de quebra nos perdemos. Tentando achar alguma avenida que chegasse ao nosso apartamento, passamos por uns bairros que pareciam bem mal-assombrados, até que uma hora, um daqueles símbolos luminosos com a cara de uma mulher piscou no meio da madrugada assustadora (risos).
Depois de mais uns minutos andando, avistamos a bandeira de longe, porque os apartamentos eram todos iguais por várias e várias quadras, e chegamos em casa.
WP: O que você espera da equipe olímpica brasileira esse ano com vários desfalques dos GMs e do grupo que este ai na Europa?
KM: Acho uma pena as datas dos Jogos Abertos de São Paulo terem coincidido com as Olimpíadas, pois esse ano o Brasil tinha tudo para ter a melhor equipe dos últimos tempos. Porém nem sempre todos ficam felizes e o lado bom é a oportunidade que os jogadores ganharão esse ano para representar nosso país na Alemanha. A exemplo do Fier, que explodiu em 2004, mais resultados positivos podem vir em 2008.
WP: Torço para um dia você vestir o nosso uniforme de Mendes, mestre.
É verdade que você joga no ICC digitando os lances?
KM: (risos) Antigamente não existia o tal do 'premove', jogar o lance antes de seu adversário então eu digitava os lances para ganhar tempo. Mas em partidas de 1 minuto só, puro passa-tempo.
RR: Perguntas Rápidas: respostas de 1 palavra só, por favor.
Para outubro (Mundial), Kramnik ou Anand?
KM: Kramnik
RR: Kasparov ou Fischer?
KM: Kasparov
RR: Senna ou Piquet?
KM: Senna
RR: Xadrez ou futebol?
KM: Xadrez
RR: Para terminar, um recado para as crianças que estão começando no xadrez.
KM: A primeira coisa é divertir-se. O xadrez exige muita dedicação, esforço... Mas em primeiro lugar você precisa gostar do que faz, precisa sentar no tabuleiro e encarar cada partida com gosto, como sendo um desafio.
WP: Krikor, muito obrigado pela gentileza e boa sorte nos próximos torneios.
RR: Muito obrigado, mestre.
KM: Não há de que. Desculpe-me se eu me excedi em algumas respostas, falo demais às vezes (risos). Abraços a todos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Visitas
Clima/Tempo de Mendes.
Festival Folia MóVidão & CXM
Arquivo do Blog
- ► 2010 (313)
- ► 2009 (468)
9 Response to "Entrevista com MI Krikor Mekhitarian por MF Wagner Peixoto e Rafael Rafic"
Finalmente temos um canal de comunicação com o público em massa e onde extravarsarmos quando das grandes conquistas do clube.
Sim.O tema da entrevista é muito bom e certamente os jovens que estão na Europa sao exemplos para muitos dos que comecam. O Blog,construtivo,com a colaboracao de todos,certamente reflete a força do CXM.Parabéns.
Olá Élcio!
Parabéns pela iniciativa. Um forte abraço.
MI Resende
Muito sucesso ao blog, que já começou muito bem entrevistando o MI Krikor, que é muito querido no meio enxadrístico, e sempre muito solícito e disposto a ajudar seus companheiros. Sangue bom...
Caro Élcio,
parabéns pelo seu blog e também pela bela entrevista com Krikor.
Coloquei o endereço deste blog na relação de links do meu blog: http://xadrezcarioca.blogspot.com
Abraços e sucesso nessa nova empreitada no mundo virtual.
AMORIM
PS.: Fiquei sabendo que o Wagner está com um blog também. Se puder post uma mensagem no XADREZCARIOCA com o endereço do blog do Wagner.
a entrevista com o MI Krikor Menkhitarian por Wagner Peixoto e Rafael Rafic foi muito interesante
eu gostei muito pois é so sou um pequeno jogador de xadrez.
E a crianção do blog, foi otima pois muitas pesoa pode ver e fazer seus cometarios.
eu queri ganhar trofeu
Wagner parabéns pela intrevista, a escolha do Krikor pra primeira intrevista do blog foi genial. Élcio parabéns por este excelente blog, tenho certeza que minha transferência para Mendes foi minha melhor escolha exclama duas pois o clube está fazendo um excelente trabalho.
Abraço.
Postar um comentário