quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Entrevista com MF Wagner Guimarães (final), por Rafael Rafic

RR: No seu currículo ainda tem 3 títulos Estaduais absolutos em 96, 97 e 99. Apesar dos 8 anos de ressaca e domínio dos MIs Limp e di Berardino, ainda dá para tentar o tetra?
WP: Espero dar trabalho, eu ainda tenho muita lenha para queimar. O Diego (di Berardino) é um dos jogadores mais técnicos do Brasil, mas sempre vou incomodar.


RR: Ainda teve outros Interclubes sem ser os 20 fluminenses?
WP: Joguei 3 Interclubes Brasileiros, uma vez pelo Clube Naval e outras 2 pelo Grande Roque.

RR: Você ainda tem uma vasta experiência dos Jogos abertos de São Paulo, talvez a competição mais importante do xadrez brasileiro. Como é estar no meio dos maiores jogadores de xadrez do Brasil e, em certos casos, até de estrelas internacionais?
WP: Sim, já jogaram inclusive Nikolic e Salov. É uma atmosfera muito boa, já analisei partidas do lado dos melhores.

RR: Como é isso? Eles são muito arrogantes ou dá para conversar sem problemas?
WP: Olha, vou citar os legais para não criar polemica. Na verdade a petulância independe de classe. O Vescovi é muito legal, sempre conversamos muito. O Fier é mais tímido, Krikor é uma figura, amado por todos e o Diego é um exemplo. Do exterior eu tive boa impressão da Sofia Polgar e do Felgaer, muito legais.

RR: Mas já teve alguém que te desrespeitou?
WP: Vou citar um caso com um GM brasileiro que prefiro não citar o nome. Eu estava jogando a final do brasileiro contra o Adriano Rodrigues em 1998 e pensei 52 minutos num lance de problema que salvava a partida. O Adriano ficou tão atordoado que me ofereceu empate em seguida.Esse GM não acreditou no resultado de empate e falou que minha posição era perdida e levou uma aula de analise perdendo em todas as variantes que dava. Afinal, eu pensei 52 minutos e não sou cego; ele só deu uma olhada rápida na posição. Quando ele perdeu na argumentação ele me disse que colocando no Fritz demoliria minha posição.Talvez tenha faltado a esse GM humildade.

RR: Falando em brasileiro, você já disputou algumas finais do Campeonato Brasileiro de Xadrez. Nunca deu um frio na barriga em saber que estava disputando o título mais importante do país?
WP: Já disputei 5 vezes. Eu amarelei em 1997, que foi disputado só em 1998. Estava muito nervoso, foi em Copacabana e eu era convidado da organização. Parecia que entrei de favor e escutei até piadinha de um MI no torneio que achava que eu não tinha nível pra jogar. Alias, esse teve que esse teve que forçar uma repetição comigo para não perder. Mas o fato é que fui penúltimo jogando muito mal. No ano seguinte foi match eliminatório e fui eliminado nas rápidas depois de 1 a 1. Mas em 2000, em Brasília, já joguei muito bem e quase fui para o zonal sul-americano. Eram 6 vagas e fiquei em 7°. Em 2001, em São Paulo, já fui pior, mas estava muito forte. Por fim em Miguel Pereira fiz 5,5 em 9.Na verdade, individualmente só me faltou um brasileiro.

RR: Para terminar a parte de torneios, conte como foi a sua experiência nas Olimpíadas sub-26 em 1997?
WP: Foi fascinante. Nunca vi tantos jogadores fortes, titulados juntos. Inclusive, tenho uma historia engraçada.Eu cheguei uns 2 dias antes do torneio começar, o hotel foi bem legal não me cobrando diária e ainda almoçava e jantava, e tinha um grupo de estudantes jogando relâmpago no saguão. Pedi para jogar e fui massacrando todos com facilidade. Ai chegou um cara todo de branco, era médico. Massacrei-o também sacrificando torre, mas senti que jogava bem melhor que os outros. Perdi as 2 seguintes e, cansado, fui dormir.Quando alinhamos a equipe, descobri que o médico era o MI Diego Valerga, com 2 normas de GM na época. Pensei que também era capivara e só por isso sacrifiquei torre. Mas ele tinha quase 2500 de ELO.

RR: Saindo dessa parte e indo para algo mais pessoal. Você tem um temperamento muito forte, tendo sido parte de algumas discussões muito acaloradas. Em que isso te atrapalha?
WP: Em muita coisa. O cara sincero acaba se prejudicando em tudo. Tenho o defeito de defender os meus amigos. Alias, teve matéria neste blog que teve 39 comentários e, para variar, eu estava envolvido.Por outro lado sempre vou ser sincero, nunca vou armar uma armadilha.De mais a mais, hoje já que sou mais controlado. Filho nos amadurece.

RR: Teve algum caso específico importante que você se prejudicou bastante por isso?
WP: Fui suspenso nos abertos desse ano por 3 meses por ter chamado o arbitro de ladrão. O pior é que eu tinha 4 em 5 e era um dos maiores pontuadores.

RR: Você já sofreu algum preconceito por causa da sua cor de pele no xadrez?
WP: Francamente falando, só se for de forma velada. Senti mais preconceito social por ser pobre do que negro.Teve um caso curioso no NXN. Fui dar uma palestra lá e senti que muitos estranharam um professor negro, mas fui muito bem tratado por todos. Avaliar uma pessoa por cor de pele é a maior estupidez, nem ligo para isso. É bom ter a cara de capivara que eu tenho, assim me subestimam e eu ganho.

RR: Agora, como treinador. O que você procura com isso?
WP: Dar aula é um dom. Quando um aluno meu ganha, eu também ganho. O Daniel aprendeu a mover as peças comigo, quando o vejo ganhar um estadual é como se eu ganhasse junto.

RR: Qual foi a sua maior emoção, quando ganhou o estadual absoluto ou quando viu seu filho ganhar o brasileiro escolar?
WP: Quando o Lucas ganhou, fácil. Quando o Lucas deu mate pela 1ª vez também foi emocionante, com 4 anos sacrificou uma torre para dar mate.

RR: Hoje você se dedica mais ao seu lado treinador do que jogador. Alguma chance de mudar isso em um futuro próximo ou médio?
WP: Eu sempre estudo quando jogo por equipes, tenho que estar em forma. Além disso, analiso partidas de GMs todos os dias. Hoje eu me sinto em forma. Se eu for jogar o Campeonato do interior, será para ganhar. O Salamon (principal árbitro da FEXERJ) me disse em uma oportunidade que eu sou o maior ganhador de torneios da FEXERJ de todos os tempos. Isso me envaidece muito.

RR: Qual a sensação após de ser um dos melhores enxadristas do país, voltar e passara ensinar a arte de Caíssa que você tanto cultuou, mesmo que em alto nível, a outras pessoas, muitas delas ainda crianças?
WP: Não tem preço. Ver hoje um Igor Mourão encarar um MI André Diamant, o Lucas brigar por títulos na categoria dele. Alias, nossa equipe C1 tem 3 títulos brasileiros e 1 pan-americano escolar. É muito legal motivar essa garotada.

RR: Tem algum plano em especial para o futuro?
WP: Formar novos jogadores e, de repente, jogar três torneios para norma de MI. Se eu passar perto da norma eu tento chegar.

RR: Rápidas. Partida mais bonita da carreira, em sua opinião?
WP: Uma que ganhei do Roland em um brasileiro por equipes, sacrifiquei dama por bispo para dar mate inevitável.

RR: Melhor torneio?
WP: Estadual absoluto de 1997, vitória com uma rodada de antecedência.

RR: Adversário mais marcante?
WP: Vitória sobre o Zambrana no mundial sub-26, depois de 7 horas de jogo.

RR: Para o match de candidatos, Topalov ou Kamisky?
WP: Eu não tinha dúvidas, hoje acho que, se houver, Kamisky ganha.

RR: Obrigado mestre pela ótima entrevista.
WP: Obrigado a você. Sempre muito inteligentes as perguntas.

Visitas

Clima/Tempo de Mendes.

Festival Folia MóVidão & CXM

Festival Folia MóVidão & CXM
Programação do Festival: Dia 05/03: Chegada dos Atletas, depois bloco do MóVidão

Jogos Escolares Cenecistas (JECs) de Xadrez

Jogos Escolares Cenecistas (JECs) de Xadrez
Classificando os seus representantes do Polo 2, na Estadual. O evento foi realizado no CNEC de Paracambi, com coordenação e arbitragem pelo Professor AF Elcio Mourão

I Magistral Octavio Trompowsky

I Magistral Octavio Trompowsky
Valendo rating CBX e FIDE, nos dias 23 a 25 de abril. Premiação de R$ 1.000,00 !!! Com 40 participantes, o vencedor foi o MI Diego Berardino.

Festival Folia MóVidão & CXM

Festival Folia MóVidão & CXM
Programação do Festival:- Dia 13/02: Chegada dos Atletas, Dia 14/02 Torneio de Xadrez e saída para o bloco do MóVidão

Arquivo do Blog